De Martin a Jair: da luta contra as injustiças à luta contra os injustiçados na América

De Martin a Jair, da luta contra as injustiças à luta contra os injustiçados: O que houve com o protestantismo?

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Esse post apenas descreve alguns fatores históricos relacionados à religião e política, que de certa forma nos importa devido a conjectura política atual. Não se têm por objetivo diminuir religiões, nem mesmo aumentá-las em questão de valores: apenas de reconhecer acertos e erros. O leitor perceberá que não é de hoje esses movimentos ultraconservadores, e que de fato o risco de voltarmos no tempo não fica apenas nos memes. Começo aqui por falar do século passado, mas nem mesmo é dele que vem essa onda. Ela vem desde sempre, desde que o ser humano é ser humano e construiu para si religiões, inclusive as abraâmicas. Na própria bíblia se percebe um conflito cíclico entre religiosos sem misericórdia e com muita religiosidade, contra "ativistas" que pedem por justiça e são ignorados. E em todos esses momentos, a tendência é de mais opressão.

Já dizia Salomão:

"Tudo é extremamente fastidioso e cansativo.
Podemos ter visto e ouvido já muita coisa, mas nunca estamos satisfeitos.
A história não passa de uma mera repetição de factos.
Não há nada que seja verdadeiramente novo; já tudo foi feito ou dito anteriormente.
Haverá alguma coisa que se possa dizer: veja, é novidade? Já aconteceu em outros tempos!
Nós é que não temos lembrança dessas coisas; e com as gerações futuras acontecerá o mesmo: não se recordarão do que nós fizemos."
(Eclesiastes 1:8-11)

Era meados de 1960. Décadas depois da segunda grande guerra, forças políticas em todo mundo se polarizavam numa luta ideológica constante.  De um lado, forças extremistas identificadas à esquerda viam o ressurgimento do liberalismo como uma ameaça à sociedade. De outro lado, forças extremistas identificadas à direita viam o mesmo do comunismo. Só que ambos estavam errados, e no próprio erro de ver extremos emergentes, se tornaram os próprios extremos. Em alguns países militares e “pára-militares” chegaram ao poder e, cismados da ameaça de outra força, estabeleceram uma outra força. No caso do Brasil, os que chegaram ao poder lutavam contra a imaginária ditadura comunista, implementando uma ditadura nacionalista e conservadora de direita.

Só que não era nada disso…
O que a sociedade precisava e até então almejava, de boa intenção, era JUSTIÇA. E viram nas fake news, motivo de revolta contra um imaginário ameaçador. Entre as pessoas que se revoltaram, estão os cristãos. A revolta é natural, mas diante dela temos que ter o senso crítico de notar quais são as verdadeiras causas de injustiça, pois, se lutarmos contra causas irreais, a solução será irreal.
Por todo o mundo os cristãos tomaram posições mediante a revolta. Nesse post pretende-se analisar a tomada de posição dos protestantes brasileiros e dos protestantes americanos numa mesma época, supracitada.

A América, como até hoje, sofria de várias injustiças de ordem social. E dentro da onda de forças políticas, se levanta um pastor batista que mais adiante seria conhecido no mundo todo: Martin Luther King. Esse nome já havia outrora causado enorme mudança em todo mundo, e novamente iria causar.
Martin Luther King era de uma família de afroamericana, batistas tradicionais, que assim como a grande população negra americana sofria preconceito só por uma diferença de cor de pele. Diz a história, que o estopim da revolta de Martin Luther King foi a negação de um branco a uma negra de sentar em um banco do ônibus só por ser negra. Bem, isso acontece até hoje, no Brasil inclusive, e causa revoltas… momentâneas. O pastor não se conformou com tanta descriminação naquela sociedade, e então, se revoltou.
A revolta, como dito no primeiro parágrafo, talvez resumisse aquele tempo em todo mundo. E havia revoltas de todos lados. A revolta de Martin se voltou ao lado dos oprimidos, contra os opressores. Ele lia a bíblia, e talvez tinha sempre em mente o provérbio  que nos orienta a “levantar a voz em favor dos oprimidos” (31:8).

Não era fácil.
Mesmo sendo um renomado pastor de seu tempo, assim como há renomados pastores em nosso tempo que se levantam em favor dos oprimidos, Martin sofria perseguição dos próprios cristãos. E não era à toa.
Um autor que escreveu sobre Martin, Wally, relembra os seguintes ditos do pastor:  “Igrejas não devem ser mestres de Estado”, “A Igreja não está para legitimar leis”, “Igreja também não é serva do Estado”.
Ele acreditava na laicidade do Estado. Por mais que sua religião o motivasse a lutar por justiça, e essa justiça poderia e deveria ser feita no Estado, ele reconhecia que as duas coisas não se misturam. A laicidade do Estado já era pregada há séculos pelos primeiros protestantes, no entanto, ao passar do tempo os protestantes quiseram tomar os poderes políticos para impor à sociedade, originalmente e naturalmente diversa e plural, um moralismo utópico, que mal funcionava dentro das paredes dos templos, quanto mais em um país inteiro que não está no templo.
A luta estava posta. De um lado, Martin progressista e ativista em favor dos direitos de todos, e de outro lado os religiosos em favor dos direitos religiosos. Tipo de Jesus versus fariseus.

No entanto, diferente do que ocorreu no Brasil e será abordado a seguir, Martin não era solitário. Sua luta não era solitária. Ele havia discípulos e mestres. O professor Paulo Ayres Mattos, em seu artigo “A Trajetória de Martin Luther King”, enfatiza que o pastor foi influenciado por diversas comunidades locais, cristãs, que tinham o mesmo pensamento evangelical de luta pela justiça e paz. E sua pregação, que tinha uma ótima oratória, cativava multidões para também lutar em defesa das minorias.

Voltando ao Brasil, nesse mesmo período da década de 1960 se instaurava o regime ditatorial civil-militar. Podemos voltar um pouco mais, e nos perguntar o que tinha por detrás disso.
Uma das coisas que tinha por detrás era nada mais nada menos que, as famosas fake news. Os movimentos que levantaram o regime, que colocaram no poder militares de visão exclusivista, se baseava em boatos de que um regime comunista estava por vir. Baseado em que? Em nada. O governo da época pretendia realizar reformas de cunho social, como por exemplo, reforma agrária. Não havia grandes grupos militares armados pronto para tomarem o poder, não havia nada semelhante ao que ocorreu em outros países… apenas boatos.

(Cont.)

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